tijolices

Para ir sendo construído, disse eu no início. A obra acabou.

Nome:
Localização: Lisboa, Portugal

sexta-feira, dezembro 31, 2004

Balanço

Deixo o Ano em Revista para os especiais das televisões, jornais e outras publicações. Deixo as análises para os entendidos e as conclusões para todos nós. Pessoalmente, deixo para trás um ano difícil, desgastante, angustiado, sofrido, magoado. Deixo para trás incertezas, temores, sustos, perdas e tristezas. Deixo para trás meses não vividos, noites não dormidas, dias apagados. Deixo tudo isso mas levo comigo uma nova luz, um alento que veio rasgar sorrisos num rosto entristecido. Uma lufada de ar fresco entrando por uma janela que, afinal, era tão fácil de abrir. E, quando esta noite erguer a minha taça, brindarei a todos vós, velhos e novos amigos, que solidários, atentos, filosóficos, poéticos, irónicos e hilariantes, me abriram as portas de par em par.
FELIZ ANO NOVO

quarta-feira, dezembro 29, 2004

Espelho


Saudade de um tempo que passou, deixando apenas a mansidão das águas e a vontade de partir.

terça-feira, dezembro 28, 2004

At home...

É como me sinto, no meio de tantas flores lindas.


segunda-feira, dezembro 27, 2004

Assim...

São dias de neura. Uma tristeza que nos invade, muitas vezes sem sabermos porquê. Dias em que nos interrogamos sobre muitas coisas, sentindo que nada valeu, nem vale, a pena. O sol pode brilhar mas tudo se nos afigura cinzento, nublado. Tentamos reagir, buscando uma força que outrora nos animava. Cientes de que não podemos entregar-nos a esse desalento. Mas todas as soluções que nos ocorrem parecem ousadas, difíceis, impraticáveis. Atitudes que nos fariam sair de um marasmo ao qual já nos habituámos. Que nos apontariam um caminho cheio de luz, alegria e felicidade. Ou não? É o medo da novidade, por mais apelativa que ela se mostre. A descoberta que nos atrai e, simultaneamente, nos atemoriza. Afinal, a neura é apenas isso: um dilema.

domingo, dezembro 26, 2004

Lua


Foi uma prenda muito especial. Ensinou-me a redimensionar as fotos para aqui as postar. A primeira é esta. Uma Lua de Verão antecipando as férias...

sexta-feira, dezembro 24, 2004

Obrigada

Por ter sido a primeira oferta deste jardim, quero com ela agradecer o carinho e incentivo dos amigos que tanto me mimam. Para todos, os meus votos sinceros de um
FELIZ NATAL

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Hemisférios

Um Natal com frio, a brancura da neve, o crepitar das chamas na lareira de uma sala enfeitada, o presépio, o pinheiro cheio de bolas e luzinhas, o bacalhau da consoada, a missa do galo, o bolo-rei, as rabanadas, as filhós de abóbora, o peru, o sapatinho na chaminé, as prendas do Pai Natal ou do Menino Jesus. Na terra onde eu nasci, havia quase tudo isso...porque o frio era das ventoinhas, a brancura da areia das praias, e o crepitar das queimadas no luzeiro de um pôr-do-sol moçambicano.
(photo from:www.africaguide.com)

terça-feira, dezembro 21, 2004

Natal

Christmas is coming, the geese are getting fat,
Please, do put a penny in the old man's hat;
If you haven't got a penny, a ha'penny will do,
If you haven't got a ha'penny, God bless you!
(Beggar's Rhyme, anonymous)

FELIZ NATAL

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Pontos de vista

-- Sabes, passo a vida a tentar -- diz ela, pensativa. -- Dar o meu melhor em tudo o que faço, em casa, na família, no emprego, arranjar tempo para as actividades culturais, manter as leituras em dia, e, claro, tratar de mim, não desistir da ginástica, fazer uma alimentação cuidada, deixar de fumar, sei lá, tantas coisas. Eu bem tento.
-- Hum-hum, -- replica ele -- e com essa roupa que trazes hoje estás mesmo tentadora!

sábado, dezembro 18, 2004

Sábado

Isto é uma obra que nem ao fim-de-semana pára. Pelo que vejo, a equipa dos espaços verdes veio trabalhar e chegou também nova remessa de tijolos da melhor qualidade. Amanhã há folga, por isso despeço-me até segunda-feira: "As minhas para convosco só à vista terão fim!"

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Recital

-- Boa música -- comento, surpreendida e já confortavelmente instalada.
-- Linda, não é? -- responde ele, um trintão de jeans e camisa de flanela. -- Sonata ao Luar. Ah, eu só oiço a Antena 2. A senhora gosta de ópera? De algumas? Pois,é preciso aprender a gostar. E quem não gosta de Canto...Eu, por exemplo, prefiro, mas de longe, as óperas latinas, os nossos intelectuais gostam todos muito de Wagner mas eu cá prefiro os italianos. Puccini! A senhora já ouviu a Madame Butterfly? E a Tosca? Também? Ah, o trio perfeito da Tosca! Para mim, claro. Sabe quem são? A Callas, o Gobbi e o Di Stefano. Cá, pouca gente conhece o Di Stefano, o preferido da Callas. Muito melhor que o parvarotti, como eu lhe chamo. (...) E La Bohème? Conhece? Não, não é a do Puccini. É a do Leoncavallo, o dos Palhaços. Que maravilha, os Palhaços! Têm outra melodia, as italianas. Olhe, se eu for para as berças, pró Alentejo profundo ou para Trás-os-Montes, e me puser a trautear uma ária de uma ópera italiana, toda a gente acha bonito; se for alemã, são capazes de correr comigo à pedrada! (...) Ora, cá estamos. Corte Inglês. Comprinhas de Natal, não é?
-- Pague-se de 5 -- digo-lhe, olhando para o taxímetro que marca 3, 85. -- Pela aula -- acrescento, com um sorriso.
(Isto passou-se ontem à tarde e transcrevo apenas uma pequena parte do longo e arrebatado monólogo de tão simpático e inesperado melómano).

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Saudade

...Era de uma meiguice que a todos conquistava. Acarinhada nas lojas e cafés das redondezas onde diariamente ia recolher a dose de mimos e olhares enternecidos. Em casa, recebia as pessoas com tão jubilosa hospitalidade que, por uns minutos, nela se concentravam todas as atenções e carinhos. O Zé sabia quantas vezes eu saíra, durante o dia, pelo número de bonecos em cima da cama. Porque só os largava depois de uma sessão de beijinhos na barriga. Um dia, o Paulo, fingindo-se enciumado desse amor, vira-se para o pai: «A nós não dás tantos beijinhos.» Tirada risonha e certeira do mano João Pedro: «Pois é, mas também não nos rebolamos no chão de barriga pró ar!»

quarta-feira, dezembro 15, 2004

PDI

Não adianta fazermo-nos desentendidos. Ela acaba por chegar e instala-se. Bem sei que agora se consegue disfarçar mais eficazmente os sinais exteriores mas os outros, os invisíveis, começam a complicar-nos a vida como uma sogra chata que veio para ficar. De início, a peneira com que queremos tapar o Sol é tão fechada que atribuímos ao stress os pequenos esquecimentos e distracções que resultam em episódios caricatos. Até os contamos, divertidos, numa roda de amigos que têm outros para a troca. E quando surge alguma dorzita num braço ou no pescoço, claro que foi mau jeito que demos, a posição na cama, ou coisa do género. Adormecer no sofá? Pois, a televisão não dá nada que preste. Fulano morreu, de repente. Não me digas. Bolas, anda a morrer muita malta do meu tempo. Esta porcaria do stress cada vez nos mata mais novos. Mas olha que ele estava muito acabado. Esquecido, meio totó. Ainda há dias o vi....Onde foi? Oh, já não me lembro mas também com o dia que eu tive hoje!

terça-feira, dezembro 14, 2004

Folga

Paragem nos trabalhos por falta de mão de obra. Uma baldazita para ir fazer as compras de Natal e evitar as enchentes de fim de semana.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

O seu a seu dono

Quem me conhece, já deve ter estranhado as benfeitorias acrescentadas à obra. Isto porque, quem me conhece sabe que não percebo nada de decoração de interiores bloguistas. Portanto, quero aqui expressar a minha terna e eterna gratidão ao Quim que, com suas meiguices de Lobo, me ajudou a assentar as fundações, a montar o estaleiro e os andaimes, e continua a supervisionar os trabalhos com olhar atento e sabedor. A ele se devem, pois, as referidas beneficiações. Bem-hajas, meu querido amigo.

Opiniões

Eu sei que há, em ambas as publicações (dn magazine e Grande Reportagem) um espaço destinado às cartas dos leitores mas prefiro comentar aqui. Afinal o blog tem de ser alimentado, não é? Como fazia um velho amigo meu, que começava sempre a ler os jornais pela última página, começo pelas Provocações do Manuel Ribeiro e pelo Sexo e a Cidália. A seguir, vou às cartas dos leitores pois rara é a semana em que não os desancam. Aí penso: a anormal devo ser eu por gostar de ler o que eles escrevem, por não me sentir ofendida com os insultos do Ribeiro ao mulherio, por não me escandalizar com as descrições deliciosamente provocadoras da Cidália, enfim, por me rir com gosto de relatos de situações que todos conhecemos mas teimamos em manter no mofo do preconceito em vez de arejarmos bem a casa. Já agora, por que carga de água é que a Cidália deve ser um homem para escrever (tão bem, entenda-se) o que escreve? Nem o Ribeiro se lembraria de uma dessas!

domingo, dezembro 12, 2004

Embirrações - I

Se há coisa com que embirro solenemente -- ainda gostava de saber por que se diz que embirramos solenemente com qualquer coisa, mas enfim, não vou embirrar também com isso -- é a mania de colarem folhetos, amostras de creme, de pastilhas para a tossse, sei lá que mais, nas folhas das revistas. Como se não bastasse o lixo solto que lá vem dentro, vulgo encartes, que é preciso sacudir, primeiro. Mas os da cola dão mais trabalho. Há que descolar o espécime publicitado e depois, das duas uma: ou se deixa ficar a mancha pegajosa, que vai colar a página à anterior, ou se tira, esfregando-a com o indicador até ela formar um rolinho. O pior é quando a cola é de tal calibre que, apensos ao rolinho, vêm bocados do papel. Há outra solução: rasgar a folha mas, não raro, o verso traz alguma coisa que queremos ler e conservar dentro da revista. Pronto, desabafei, e agora vou pegar no Notícias Magazine mas já de indicador em riste para o caso de lá vir algum brinde simpaticamente colado para solenemente me irritar.

sábado, dezembro 11, 2004

Eles andem aí!

Vivemos, durante uns tempos, numa moradia alugada, em Alvalade. Com um quintal atrás e um pequeno jardim à frente. Jardim que fazia as minhas delícias. Com relva, árvores e flores. Havia, porém, um canto sombrio onde a relva não vingava e decidi preencher esse espaço com um monte de pedras ornamentais. Vieram as ditas e fez-se uma pirâmide entressachada de petúnias. Ao fim da tarde, olhando casualmente pela janela da sala, admirando o novo arranjo paisagístico, vejo passar uma coisa escura e lesta que subiu depois pelo tronco da araucária vizinha das pedras. Sim, eu já tinha ouvido falar neles, contava-se mesmo que o velhote da esquina não deitava fora o lixo, enterrando-o no jardim para servir de adubo às rosas. A vizinha do lado tinha um belíssimo e feroz Rottweiller mas, para o caso, o melhor mesmo era o sistema das pastilhas. Repostas periodicamente pela empresa de manutenção de jardins, serviam de banquete aos invasores que depois iam morrer...longe. Como convém. Pois é, numa questão de meia hora, o meu lindo jardim transformou-se em parque de diversões para os afoitos e anafados roedores. Era vê-los correr pelo relvado, trepar pelos troncos, olhos luzentes, felizes, famílias inteiras explorando, deliciadas, todos os cantinhos do novo condomínio. Ia-me dando uma coisa. Qual jantar, qual telejornal, tudo a acartar com as pedras para o contentor do lixo, já! Pronto, assunto resolvido. Mas nessa noite, a vizinhança deve ter estranhado o ror de vezes que se acendeu e apagou a luz daquele jardim.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Diálogos

Muitas vezes dou por mim a ter conversas mentais. São conversas inteiras, com dois interlocutores, em que adivinho as falas do outro e respondo com uma eloquência que me espanta. Normalmente, são conversas sérias, de assuntos por resolver, de coisas entaladas na garganta, de pontos que têm de ser postos nos is. Depois volta o silêncio e o vazio das palavras caladas. Até à próxima conversa...

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Estaleiro

Tudo começou numa brincadeira, num jogo de palavras. Depois, como se assentes por mão traquejada e firme, os tijolos foram edificando uma amizade sólida, uma cumplicidade arejada, uma ternura acolhedora. Seguiu-se uma proposta. Uma nova construção, com os mesmos materiais mas noutro local, mais visível, mais exposto. Após alguma reserva inicial, fez-se o levantamento topográfico. O estudo prévio. O projecto. O caderno de encargos. Está adjudicada. Estaleiro montado. Vai começar a obra.