Dilemas...

Para ir sendo construído, disse eu no início. A obra acabou.




Todos nós já passámos por isso. Normalmente, há uma troca de sorrisos mais ou menos constrangidos. Estou a falar da situação em que nos cruzamos com alguém num passeio e ficamos, por instantes, naquele balancé dos dois para a direita, os dois para a esquerda. Aconteceu-me hoje e lembro-me sempre de dois casos. Num, a minha prima, doce e meiga mas muito prática, às tantas vira-se para o sujeito, estica o braço e diz-lhe «Fique aí, quieto, e passo eu!» No outro, foi o meu cunhado que, de visita ao Porto, ouviu de uma boca feminina o lapidar «Poças pró tango!»
Não...ainda não vou a meio. Abriu-se hoje, na primeira página. Mas, como já nos conhecemos, está tomado o pulso. Tem um estilo solto, coloquial, despojado e por vezes hilariante. Sentamo-nos à secretária. Ela traz-me um novo romance. Eu crio um novo ficheiro no Word e, o mais fielmente possível, rescrevo-lho com palavras minhas.
A paisagem é agreste, uma aridez ilusória, um isolamento inspirador, um local procurado por quem busca a solidão para, nas palavras, verter estados de alma, reflectir, aprender, trocar experiências, partilhar o amor pela escrita. Um refúgio espartano mas acolhedor no sorriso de quem nos recebe, na cumplicidade de quem o elege, na empatia dos gostos, na diversidade de culturas. É assim o Writers' Place, nos Cliffs of Moher, Irlanda. Hei-de lá ir, um dia, escrever as minhas palavras. Entretanto, vou escrevendo as dos outros. E amanhã tudo recomeça...