
É uma conversa que nunca tivemos. Muitas outras sim, mas esta não. Estranha conversa, porém. Eu falo e tu ouves. Como sempre me ouviste. Quando era preciso ouvir. Sempre me protegeste. Até de mais, por vezes. Mas és assim e eu aprendi a aceitar. Apoiaste sempre, incondicionalmente, as decisões que tomei. Também tivemos discussões. Das quais me arrependo amargamente. Mas, sabes, são daquelas coisas que só acontecem entre duas pessoas que se amam. E por isso se perdoam. E tu perdoaste sempre. As nossas vidas não foram fáceis. Os dramas da minha foram por ti vividos com duplo sofrimento. E sei que, em ti, a dor foi sempre maior. A tua força, nessa aparente fragilidade, serviu-me de exemplo. Nem sempre te agradeci como devia. Nunca te disse, assim com a frase certa, o quanto te amava. E devia ter dito. Muitas vezes. Talvez por um certo pudor em dizê-lo, não sei. Penso que foi isso, um mal da minha geração. Ou talvez por pensar que bastava traduzir em gestos esse amor e essa gratidão. E logo eu, que trabalho com as palavras. Por que não as disse ao longo destes anos todos? Por que estou agora a escrevê-las e não tas digo de viva voz? Vou dizer, sim. Mas também quero que fiquem escritas. Aqui. Peço-te, por isso, que te sentes na minha cadeira, olhes para o monitor e leias o que acabo de escrever. Depois vou dar-te um abraço muito apertado, um beijo, e dizer-te com a ternura que me embarga a voz: Amo-te muito, Mãe.