Vim deixar-te um grande beijinho e avisar-te que estou com gripe! Até ontem fiz por reagir, mas acabei por me render e estou mesmo de cama (vim jantar e espreitar no blog + email). Escrevo-te mal me passe a sensibilidade à luz (o monitor põe-me a chorar :)) Tens um sorriso de Fada. És a Fada Cinda. Como é que não sabias?
O título deste Pos trouxe-me à lembrança um Poema de um autor que muito gosto. Deixo-te aqui o poema, para que essa nostalgia desapareça do teu coração.
-"Quem se eu gritasse, me ouviria pois entre as ordens Dos anjos? E dado mesmo que me tomasse Um deles de repente em seu coração, eu sucumbiria Ante sua existência mais forte. Pois o belo não é Senão o início do terrível, que já a custo suportamos, E o admiramos tanto porque ele tranqüilamente desdenha Destruir-nos. Cada anjo é terrível. E assim me contenho pois, e reprimo o apelo
De obscuro soluço. Ah! A quem podemos Recorrer então? Nem aos anjos nem aos homens, E os animais sagazes logo percebem Que não estamos muito seguros No mundo interpretado. Resta-nos talvez Alguma árvore na encosta que diariamente Possamos rever. Resta-nos a rua de ontem E a mimada fidelidade de um hábito, Que se compraz conosco e assim fica e não nos abandona. Ó e a noite, a noite, quando o vento cheio dos espaços Do mundo desgasta-nos o rosto -, para quem ela não é /sempre a desejada, Levemente decepcionante, que para o solitário coração Se impõe penosamente. Ela é mais leve para os amantes? Ah! Eles escondem apenas um com o outro a própria sorte. Não o sabes ainda? Atira dos braços o vazio Para os espaços que respiramos; talvez que os pássaros Sintam o ar mais vasto num vôo mais íntimo.
Sim, as primaveras precisavam de ti.Muitas estrelas Esperavam que tu as percebesses. Do passado Erguia-se uma vaga aproximando-se, ou Ao passares sob uma janela aberta, Um violino se entregava. Tudo isso era missão. Mas a levaste ao fim? Não estavas sempre Distraído pela espera, como se tudo te ansiasse A bem amada? (onde queres abrigá-la Então, se os grandes e estranhos pensamentos entram E saem em ti e muitas vezes ficam pela noite.) Se a nostalgia te dominar, porém, cantas as amantes; muito Ainda falta para ser bastante imortal seu celebrado sentimento. Aquelas que tu quase invejaste, as desprezadas, que tu Achaste muito mais amorosas que as apaziguadas. Começa Sempre de novo o louvor jamais acessível; Pensa: o herói se conserva, mesmo a queda lhe foi Apenas um pretexto para ser : o seu derradeiro nascimento. As amantes, porém, a natureza exausta as toma Novamente em si, como se não houvesse duas vezes forças para realizá-las. Já pensaste pois em Gaspara Stampa O bastante para que alguma jovem, A quem o amante abandonou, diante do elevado exemplo Dessa apaixonada, sinta o desejo de tornar-se como ela? Essas velhíssimas dores afinal não se devem tornar Mais fecundas para nós? Não é tempo de nos libertarmos, Amando, do objeto amado e a ele tremendo resistirmos Como a flecha suporta à corda, para, concentrando-se no salto Ser mais do que ela mesma? Pois parada não há em /parte alguma.
Vozes, vozes.Escuta, coração como outrora somente os santos escutavam: até que o gigantesco apelo levantava-os do chão; mas eles continuavam ajoelhados, inabaláveis, sem desviarem a atenção: eles assim escutavam. Não que tu pudesses suportar a voz de Deus, de modo algum. Mas escuta o sopro, a incessante mensagem que nasce do silêncio. Daqueles jovens mortos sobe agora um murmúrio em direção /a ti. Onde quer que penetraste, nas igrejas De Roma ou de Nápoles, seu destino não falou a ti, /tranqüilamente? Ou uma augusta inscrição não se impôs a ti Como recentemente a lousa em Santa Maria Formosa. Que eles querem de mim? Lentamente devo dissipar A aparência de injustiça que às vezes dificulta um pouco O puro movimento de seus espíritos.
Certo, é estranho não habitar mais terra, Não mais praticar hábitos ainda mal adquiridos, Às rosas e outras coisas especialmente cheias de promessas Não dar sentido do futuro humano; O que se era, entre mãos infinitamente cheias de medo Não ser mais, e até o próprio nome Deixar de lado como um brinquedo quebrado. Estranho, não desejar mais os desejos. Estranho, Ver tudo o que se encadeava esvoaçar solto No espaço. E estar morto é penoso E cheio de recuperações, até que lentamente se divise Um pouco da eternidade. - Mas os vivos Cometem todos o erro de muito profundamente distinguir. Os anjos (dizem) não saberiam muitas vezes Se caminham entre vivos ou mortos. A correnteza eterna Arrebata através de ambos os reinos todas as idades Sempre consigo e seu rumor as sobrepuja em ambos.
Finalmente não precisam mais de nós os que partiram cedo, Perde-se docemente o hábito do que é terrestre, como o /seio materno suavemente se deixa, ao crescer.Mas nós que de tão grandes mistérios precisamos, para quem do luto tantas vezes o abençoado progresso se origina - : poderíamos passar /sem eles? É vã a lenda de que outrora, lamentando Linos, A primeira música ousando atravessou o árido letargo, Que então no sobressaltado espaço, do qual um quase /divino adolescente escapou de súbito e para sempre, o vazio entrou naquela vibração que agora nos arrebata e consola e ajuda?" "As Elegias de Duíno" Primeira Elegia de Rainer Maria Rilke"
Um abraço carinhoso e um :-))) htpp://eternamentemenina.blogs.sapo.pt
4 Comments:
:)*
Vim deixar-te um grande beijinho e avisar-te que estou com gripe! Até ontem fiz por reagir, mas acabei por me render e estou mesmo de cama (vim jantar e espreitar no blog + email).
Escrevo-te mal me passe a sensibilidade à luz (o monitor põe-me a chorar :))
Tens um sorriso de Fada. És a Fada Cinda. Como é que não sabias?
Acho q vou ficar aqui um bom pedaço... posso?
beijo
O título deste Pos trouxe-me à lembrança um Poema de um autor que muito gosto. Deixo-te aqui o poema, para que essa nostalgia desapareça do teu coração.
-"Quem se eu gritasse, me ouviria pois entre as ordens
Dos anjos? E dado mesmo que me tomasse
Um deles de repente em seu coração, eu sucumbiria
Ante sua existência mais forte. Pois o belo não é
Senão o início do terrível, que já a custo suportamos,
E o admiramos tanto porque ele tranqüilamente desdenha
Destruir-nos. Cada anjo é terrível.
E assim me contenho pois, e reprimo o apelo
De obscuro soluço. Ah! A quem podemos
Recorrer então? Nem aos anjos nem aos homens,
E os animais sagazes logo percebem
Que não estamos muito seguros
No mundo interpretado. Resta-nos talvez
Alguma árvore na encosta que diariamente
Possamos rever. Resta-nos a rua de ontem
E a mimada fidelidade de um hábito,
Que se compraz conosco e assim fica e não nos abandona.
Ó e a noite, a noite, quando o vento cheio dos espaços
Do mundo desgasta-nos o rosto -, para quem ela não é /sempre a desejada,
Levemente decepcionante, que para o solitário coração
Se impõe penosamente. Ela é mais leve para os amantes?
Ah! Eles escondem apenas um com o outro a própria sorte.
Não o sabes ainda? Atira dos braços o vazio
Para os espaços que respiramos; talvez que os pássaros
Sintam o ar mais vasto num vôo mais íntimo.
Sim, as primaveras precisavam de ti.Muitas estrelas
Esperavam que tu as percebesses. Do passado
Erguia-se uma vaga aproximando-se, ou
Ao passares sob uma janela aberta,
Um violino se entregava. Tudo isso era missão.
Mas a levaste ao fim? Não estavas sempre
Distraído pela espera, como se tudo te ansiasse
A bem amada? (onde queres abrigá-la
Então, se os grandes e estranhos pensamentos entram
E saem em ti e muitas vezes ficam pela noite.)
Se a nostalgia te dominar, porém, cantas as amantes; muito
Ainda falta para ser bastante imortal seu celebrado sentimento.
Aquelas que tu quase invejaste, as desprezadas, que tu
Achaste muito mais amorosas que as apaziguadas. Começa
Sempre de novo o louvor jamais acessível;
Pensa: o herói se conserva, mesmo a queda lhe foi
Apenas um pretexto para ser : o seu derradeiro nascimento.
As amantes, porém, a natureza exausta as toma
Novamente em si, como se não houvesse duas vezes forças para realizá-las.
Já pensaste pois em Gaspara Stampa
O bastante para que alguma jovem,
A quem o amante abandonou, diante do elevado exemplo
Dessa apaixonada, sinta o desejo de tornar-se como ela?
Essas velhíssimas dores afinal não se devem tornar
Mais fecundas para nós? Não é tempo de nos libertarmos,
Amando, do objeto amado e a ele tremendo resistirmos Como a flecha suporta à corda, para, concentrando-se no salto Ser mais do que ela mesma?
Pois parada não há em /parte alguma.
Vozes, vozes.Escuta, coração como outrora somente
os santos escutavam: até que o gigantesco apelo
levantava-os do chão; mas eles continuavam ajoelhados,
inabaláveis, sem desviarem a atenção:
eles assim escutavam. Não que tu pudesses suportar
a voz de Deus, de modo algum. Mas escuta o sopro,
a incessante mensagem que nasce do silêncio.
Daqueles jovens mortos sobe agora um murmúrio em direção /a ti.
Onde quer que penetraste, nas igrejas
De Roma ou de Nápoles, seu destino não falou a ti, /tranqüilamente?
Ou uma augusta inscrição não se impôs a ti
Como recentemente a lousa em Santa Maria Formosa.
Que eles querem de mim? Lentamente devo dissipar
A aparência de injustiça que às vezes dificulta um pouco
O puro movimento de seus espíritos.
Certo, é estranho não habitar mais terra,
Não mais praticar hábitos ainda mal adquiridos,
Às rosas e outras coisas especialmente cheias de promessas
Não dar sentido do futuro humano;
O que se era, entre mãos infinitamente cheias de medo
Não ser mais, e até o próprio nome
Deixar de lado como um brinquedo quebrado.
Estranho, não desejar mais os desejos. Estranho,
Ver tudo o que se encadeava esvoaçar solto
No espaço. E estar morto é penoso
E cheio de recuperações, até que lentamente se divise
Um pouco da eternidade. - Mas os vivos
Cometem todos o erro de muito profundamente distinguir.
Os anjos (dizem) não saberiam muitas vezes
Se caminham entre vivos ou mortos. A correnteza eterna
Arrebata através de ambos os reinos todas as idades
Sempre consigo e seu rumor as sobrepuja em ambos.
Finalmente não precisam mais de nós os que partiram cedo,
Perde-se docemente o hábito do que é terrestre, como o /seio materno
suavemente se deixa, ao crescer.Mas nós que de tão grandes
mistérios precisamos, para quem do luto tantas vezes
o abençoado progresso se origina - : poderíamos passar /sem eles?
É vã a lenda de que outrora, lamentando Linos,
A primeira música ousando atravessou o árido letargo,
Que então no sobressaltado espaço, do qual um quase /divino adolescente
escapou de súbito e para sempre, o vazio entrou
naquela vibração que agora nos arrebata e consola e ajuda?"
"As Elegias de Duíno" Primeira Elegia de Rainer Maria Rilke"
Um abraço carinhoso e um :-)))
htpp://eternamentemenina.blogs.sapo.pt
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